CIRURGIA

A palavra “cirurgia” deriva do latim chirurgia, vem do grego cheiros (mãos) e ergon (trabalho), podendo ser definido cirurgia como o conjunto de gestos manuais ou instrumentais, executado pelo cirurgião, que abrange a abertura ou não do corpo com finalidade diagnóstica, terapêutica ou estética.

Classificamos a cirurgia pela sua urgência, pelo seu risco cardiológico, pelo seu tempo de duração, pelo seu potencial de contaminação e pela classificação segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), e pela finalidade do tratamento, estas classificações são importantes para um planejamento adequado na assistência ao paciente.

NOMENCLATURA CIRÚRGICA

Na nomenclatura cirúrgica, os termos são formados por um prefixo que designa a parte do corpo relacionado com a cirurgia e por um sufixo que indica o ato cirúrgico realizado.

V I D E O C O LE C I S T E C T O M I A

PREFIXO “COLE” VESÍCULA 

SUFIXO “ECTOMIA” REMOÇÃO PARCIAL OU TOTAL

ANESTESIA

O termo anestesia tem origem nas palavras gregas an = privação + aísthesis = sensação + ia, que literalmente quer dizer perda total ou parcial da sensibilidade, especialmente da tátil. O termo foi sugerido pelo médico e poeta norte americano Oliver Wendel Holmes.

A escolha do tipo de anestesia para determinado procedimento cirúrgico depende de diversos fatores que estão relacionados com o paciente e não com o procedimento cirúrgico. Sendo que no procedimento videolaparoscópio o tipo de anestesia recomendado é a anestesia geral.

A anestesia geral é um estado induzido por uma ou mais combinações de agentes proporcionando controle, depressão reversível da função do sistema nervoso central, incluindo inconsciência, amnésia, analgesia, relaxamento muscular, resposta motora diminuída a estímulos e reversibilidade. Mantém as funções vitais cardiovascular, respiratória e renal.

POSICIONAMENTO CIRÚRGICO

A posição cirúrgica é aquela em que é colocado o paciente, depois de anestesiado, para ser submetido a um procedimento cirúrgico, devendo a área estar adequadamente exposta para facilitar o procedimento cirúrgico.

Posicionar o paciente requer habilidade, destreza, força da equipe paramobilizar o corpo do paciente, movimentos precisos, sincronizados, visando evitar hipotensão, traumas, dores, entorses, paresias no pós- operatório, portanto o paciente deve estar confortável anestesiado ou acordado.

TIPOS DE POSIÇÕES PARA VIDEOCIRURGIAS

Vários cuidados devem ser tomados ao posicionar um paciente para uma intervenção cirúrgica:

• O posicionamento deve ser feito de maneira segura, levando em consideração a anatomia e fisiologia do paciente e a técnica cirúrgica a ser empregada.
• Registrar intercorrências, para permitir a continuidade da assistência no pós-operatório.

• Evitar contato de partes do corpo do paciente com superfícies metálicas da mesa cirúrgica,
• Cuidar com os membros inferiores e superiores nunca fiquem pendentes da mesa de operação. Se for impossível colocá-lo ao longo do corpo, deve-se apoiálos sobre talas.

• Evitar posições viciosas, procurando um posicionamento mais funcional e seguro possível.

• Proteger proeminências ósseas, principalmente em pacientes obesos, idosos e desnutridos para evitar a formação de úlceras de pressão e tromboses e a compressão da circulação.

• Não comprimir ou hiperestender terminações nervosas, evitando-se assim as paralisias, que podem ser irreversíveis.

TEMPO CIRÚRGICO E INSTRUMENTAIS CIRÚRGICOS

Os primeiros instrumentais cirúrgicos eram pontiagudos de pedra e dentes de animais, à medida que a técnica cirúrgica foi se desenvolvendo, a descoberta dos procedimentos anestésicos, da hemostasia e da antissepsia cirúrgica, o acesso aos órgãos não era mais possível ser realizado somente com as mãos.

Com o desenvolvimento da moderna cirurgia em 1846, vários instrumentais foram idealizados, muitos deles às vezes dispensáveis ou substituíveis por outros mais comuns, mas existem instrumentais que facilitam enormemente os procedimentos cirúrgicos e por isso se tornam insubstituíveis nas cirurgias para as quais foram criados.

A utilização do instrumental cirúrgico deve ser planejada em função dos tipos e tempos cirúrgicos, são classificados em:

• Convencional: são aqueles instrumentais necessários em qualquer procedimento cirúrgico, independente da especialidade médica. Exemplo: bisturi, tesouras, backaus, pinças auxiliares, etc;

• Especiais: são instrumentais com uso destinado a cirurgias especiais de determinadas áreas da medicina.

Exemplo: curetas, fórceps, espéculo nasal, etc

De um modo geral todas as intervenções cirúrgicas são realizadas em quatro fases:

DIÉRESES

Diérese: é o rompimento da continuidade dos tecidos, ou planos anatômicos para atingir a região ou órgão, sendo classificada em mecânica e física.

 

TIPOS DE DIÉRESE MECÂNICA: 

Punção – realizada através de uma agulha e trocáter, sem, contudo, seccioná-los. 

Secção – consiste na segmentação dos tecidos com o uso de materiais cortantes 

Divulsão – realizada através do afastamento dos tecidos nos planos anatômicos, com tesouras de bordas rombas, tenta cânulas ou afastadores.  

Curetagem – consiste na raspagem de superfície de um órgão com auxílio de cureta. 

Dilatação – realizada com finalidade de aumentar a luz de um órgão tubular. 

TIPOS DE DIÉRESE FÍSICA: 

Térmica – Uso do calor, cuja fonte é a energia elétrica por meio do bisturi. 

Crioterapia – consiste no resfriamento intenso e repentino da área em que vai ser realizada a intervenção cirúrgica. 

Raio laser – o aparelho de raio laser consiste em um bisturi que emprega um feixe de radiação infravermelha de alta intensidade.  

 

  1. * Nas videocirurgias realizamos diérese mecânica do tipo punção, secção e dilatação. 

TIPOS DE HEMOSTASIA

Hemostasia:

É o processo que consiste em impedir, deter ou prevenir o sangramento é realizado simultâneo ou individualmente por meio de pinçamento e ligadura de vasos, eletrocoagulação ou compressão.

Preventiva: Hemostasia que pode ser medicamentosa (pré-operatório) e cirúrgica que é realizada com a finalidade de interromper a circulação durante o ato operatório, temporária ou definitiva.

Urgência: Hemostasia realizada quase sempre em condições não favoráveis e com material muitas vezes improvisado, como, por exemplo, compressão digital, garrotes e torniquetes.

Curativa: Consiste na hemostasia realizada durante a intervenção cirúrgica e pode ser medicamentosa (drogas que diminuem o sangramento), mecânica (compressão e esponjas sintéticas), física (bisturi) ou biológica (absorventes).

Exerese:

É a etapa do procedimento cirúrgico em que ocorre a remoção cirúrgica de um tecido ou órgão mal-funcionante ou doente.

Síntese:

É o fechamento (Suturas).

Cruenta: A união de tecidos é realizada por meio de instrumentos apropriados como agulhas de sutura e fios cirúrgicos permanentes ou removíveis.

Incruenta: Consiste na aproximação dos tecidos com o auxílio de gesso, adesivos ou ataduras.

Complexa: A união ou a aproximação dos tecidos, realizada em toda a extensão da incisão cirúrgica.

Incompleta: Consiste na aproximação incompleta em toda a extensão da ferida e conseqüência a colocação de drenos e determinado local

Imediata: A união dos tecidos ocorre imediatamente após segmentação deles por traumatismo.

Mediata: Consiste na união dos tecidos após algum tempo depois do rompimento da continuidade deles.

INSTRUMENTAIS

De acordo com o tempo cirúrgico classificamos os instrumentais em:

Diérese

Compreende os instrumentais usados para corte. São eles: bisturi, tesouras, serra e outros.

Hemostasia – este grupo é formado pelos instrumentais cuja função é o pinçamento de vasos sangrantes, usados para hemostasia temporária durante o ato cirúrgico. 

Assim sendo, compreendem aqueles usados para pinçar vasos, segurar fios de sutura e prender tecidos. Temos: pinças hemostáticas e atraumáticas.

Preensão – é destinado a segurar a suspender órgãos e vísceras. São as pinças elásticas (Potts Smith, Adson, Nelson) e pinças com anéis e cremalheiras (Babcock, Allis)

Separação – são destinados à exposição, permitindo a melhor visualização da cavidade. São os afastadores.

Síntese – são instrumentais usados para realizar suturas. São os portas-agulha, fios e agulhas.

Especiais – sua indicação é determinada pelo tipo de cirurgia a ser realizada. São Abadie (gastrointestinal), Satinsky (vascular)

Campo – se destina a fixação de campos. (Backaus)

Laparoscópio – são utilizados em cirurgias videolaparoscópicas. São os irrigadores, aspirador, pinças, tesouras, ganchos, afastadores de 5 e 10 mm de diâmetro que introduzidos na cavidade abdominal ou torácica através dos trocátertes para realização dos procedimentos.

MATERIAIS AUXILIARES

Todo material usado nas cirurgias e que não pertence ao grupo dos instrumentais é denominado material auxiliar. Independente do porte da cirurgia, alguns desses materiais sempre serão usados. Exemplo: gaze, compressas, borracha do aspirador, bisturi elétrico, drenos, esparadrapo, etc.

EQUIPE CIRÚRGICA

A equipe cirúrgica que atua em uma cirurgia é formada pelo cirurgião, um ou dois auxiliares, anestesista e o instrumentador que exerce suas funções específicas. Salientamos a relevância de que o instrumentador seja um profissional da enfermagem. Tal fato deve-se a fiscalização pelos órgãos de saúde, como aspectos de interesse durante um ato operatório como noções de assepsia, anti-sepsia, microbiologia, anatomia humana, bem como conhecimento dos materiais necessários ao ato, tanto os permanentes como os de consumo.

A posição que os membros da equipe cirúrgica devem assumir durante o procedimento é estabelecida de modo a proporcionar o melhor acesso possível ao campo cirúrgico evitando, assim, manobras desnecessárias, posições desconfortáveis e maiores risco de contaminação.

MONTAGEM DA SALA CIRÚRGICA

É necessário que todo o material a ser utilizado na cirurgia esteja na sala antes da chegada da equipe cirúrgica. O instrumentador juntamente com o circulante deverá providenciar todo material necessário para a cirurgia. Este trabalho fará com que o circulante não tenha que se ausentar da sala durante o ato cirúrgico, o que poderá ocorrer eventualmente, devendo esse material ser providenciado o mais rápido possível.

A mesa do instrumentador deverá ser montada em local que propicie melhor acesso ao cirurgião e a seu auxiliar, no que se refere à passagem dos instrumentos e demais materiais e ficar em local de menor movimento da sala.

INFECÇÃO HOSPITALAR

É toda infecção adquirida durante a internação hospitalar e geralmente provocada pela própria flora bacteriana humana, que se desequilibra com os mecanismos de defesa em decorrência de patologias, procedimentos invasivos (soros, cateteres, cirurgias) e do contato com a flora hospitalar.

Florence Nightingale (1856) sugeriu, em seus relatos, a importância das condições sanitárias de um hospital e as possíveis complicações pós-operatórias. Semmelweis (1860) identificou maior mortalidade por febre puerperal na clínica obstétrica frequentada por estudantes de medicina devido à presença de partículas cadavéricas em suas mãos, as quais eram introduzidas no sistema sanguíneo vascular das parturientes.

Tornou-se então obrigatória à lavagem das mãos com substância clorada entre cada paciente examinada.

A infecção de sítio cirúrgico se dá na incisão e/ou tecidos manipulados durante a operação, podendo ser diagnosticada pela presença de secreção purulenta no local da incisão cirúrgica até trinta dias após a realização do procedimento, ou um ano, nas situações que envolvam implantes de próteses.

FATORES PREDISPONENTES

Entre os fatores predisponentes, o tipo de procedimento é fundamental. A duração do procedimento relaciona-se com complexidade, dificuldade e tempo de exposição de tecidos.

Classificação dos procedimentos:

Cirurgia limpa: operações eletivas. São feridas não traumáticas e não infectadas, sem nenhum sinal inflamatório.

Cirurgia potencialmente contaminada: operações em que exista abordagem do trato digestivo, respiratório, geniturinário, sem cultura positiva, e orofaringe, em situações controladas e sem contaminação não usual. Cirurgias biliares sem infecção das vias biliares, apendicectomia, implante de dreno ou nas quais houve pequenas quebras de técnica.

Cirurgia contaminada: feridas traumáticas recentes, abertas, contaminação grosseira do trato digestivo, via biliar ou geniturinário, na presença de bile ou urina infectada, maiores quebras de técnicas e inflamação sem secreção purulenta.

Cirurgia infectada: achado cirúrgico de secreção purulenta, tecido desvitalizado, corpos estranhos, contaminação fecal, ou trauma com atraso de tratamento.

CLASSIFICAÇÃO DOS ARTIGOS MÉDICO-HOSPITALARES

A fim de possibilitar a aplicação correta e econômica dos meios de desinfecção e esterilização, é necessário classificar os artigos quanto ao risco potencial de transmissão de infecções ao paciente.

Os artigos e equipamentos hospitalares são classificados conforme o risco de transmissão de infecção em:

Artigos críticos: são todos aqueles destinados a penetrar tecidos estéreis, tecidos vasculares, bem como todos os que estejam conectados com este sistema. Ex: pinças, próteses, drenos, instrumentais de corte, etc. Requerem esterilização ou desinfecção de alto nível.

Artigos semicríticos: são todos aqueles que entram em contato com a pele não íntegra ou com mucosas. Devem estar livres de todos os microrganismos, com exceção de bactérias esporuladas. Requerem desinfecção de alto nível.

Artigos não críticos: são artigos que entram em contato com a pele íntegra. Devem ser limpos com água e sabão. Requerem desinfecção de baixo nível. Ex: aparelhos de pressão, máscaras, estetoscópio, microscópio cirúrgico, termômetro e etc.

DESCONTAMINAÇÃO

“Termo usado para descrever um processo de tratamento que torna um dispositivo, instrumento ou superfície ambiental de uso médico segura para a manipulação.” Favero & Bond, 1991; Rutala 1996.

Os materiais podem tornar-se veículos de agentes infecciosos no hospital se não forem processados de forma adequada.

A limpeza é a etapa mais importante nos processos de esterilização e desinfecção – APIC, 1997.

CONCEITOS BÁSICOS DE LIMPEZA

É a remoção de toda a sujidade de secreções e matéria orgânica de superfícies, artigos, materiais e equipamentos, por intermédio de ação mecânica, com água e compostos detergentes. Ao final desse processo efetua-se enxágue intenso em água corrente.

  • Utilizase água e sabão neutro ou detergente enzimático.

  • A limpeza pode ser realizada manual ou mecanicamente.

  • É um dos passos mais importantes no processo de desinfecção e esterilização.

LIMPEZA DE MATERIAIS

Limpeza Manual: segurança do funcionário = uso de EPI + Uso de roupa privativa

  • Uso de luvas de borracha de cano longo
  • Máscara de carvão ativado
  • Óculos de proteção
  • Avental plástico ou impermeável
  • Sapatos impermeáveis
  • Educação e treinamento constantes
 
 

* RESTOS DE MATÉRIA ORGÂNICA, VISÍVEIS OU NÃO, NOS ARTIGOS E EQUIPAMENTOS PODEM ESCONDER MICRORGANISMOS, (CAUSADORES DE INFECÇÕES) E SEUS ARTIGOS NÃO ESTARÃO ESTÉREIS. 

RECOMENDAÇÕES:

Os instrumentos devem ser lavados logo após sua utilização para facilitar a limpeza

Deve lavar-se todo o instrumental, utilizado e não utilizado.

A lavagem deve realizar-se com as articulações dos instrumentos abertas.

Os motores e sistemas elétricos não devem ser submersos na água. Limpar com panos úmidos e secar bem com ajuda de ar comprimido.

Materiais articulados ou formados por vários componentes devem ser desmontados.

A luz dos artigos deve ser completamente preenchida com a solução detergente.

Instrumentais muito sujo de sangue coagulado, secreções incrustadas devem ser previamente lavados de forma manual.

ETAPAS DO PREPARO DE MATERIAL PARA ESTERILIZAÇÃO

SELEÇÃO

É a separação dos materiais odonto-médico-hospitalares, por tipo, para que sejam limpos adequadamente sem sofrer danos.

Ex. Instrumentais, endoscópios, borrachas, vidros, etc.

LIMPEZA

É o processo de remoção de sujidades realizado pela aplicação de energia mecânica (fricção), química (soluções detergentes, desincrostantes ou enzimática) ou térmica. A utilização associada de todas estas formas de energia aumenta a eficiência da limpeza.

Uma limpeza eficiente do instrumental cirúrgico consiste na retirada total da matéria orgânica (bioburden0 depositada em diversas partes do material, sejam estas difíceis, fácil ou impossível ao acesso mecênico.

A matéria orgânica presente (óleo, gordura, sangue, pus e outras secreções) envolve os microrganismos, protegendo-os da ação do agente esterilizante. Por essa razão, a limpeza constitui núcleo de todas as ações referentes aos cuidados de higiene com os artigos e áreas hospitalares, além de ser o primeiro passo nos procedimentos técnicos de desinfecção e esterilização.

A limpeza dos artigos deve ser feita de maneira escrupulosa e meticulosa procurando-se escolher para cada tipo de material a melhor maneira de executar esta tarefa, o instrumental deve ser limpo o mais rápido possível após o uso, e todas as partes que possam ser desconectadas deverão sofrer a desmontagem antes de serem submetidas à limpeza. As enzimas ajudam a remover uma boa parte do bioburden do instrumental sem causar-lhes qualquer dano, quando em boa concentração.

Quanto aos produtos de limpeza, merece destaque o seguinte grupo:

Detergentes: São produtos que contém tensoativos em sua formulação, com a finalidade de limpar através de redução da tensão superficial, umectação, dispersão, suspensão e emulsificação da sujeira.

Detergente Enzimático: À base de enzimas e surfactantes, não-iônico, com pH neutro, destinado a dissolver e digerir sangue, restos mucosos, fezes, vômito e outros restos orgânicos de instrumental cirúrgico, endoscópios e artigos em geral. As enzimas que promovem a quebra da matéria orgânica são basicamente de três tipos:
Proteases: decompõem as proteínas.
Amilases: decompõem os carboidratos
Lipases: decompõem as gorduras.

VIDEOLAPAROSCOPIA

A laparoscopia surgiu no início do século XX. Seu progresso foi lento e a evolução somente se tornou possível à medida que avanços tecnológicos tornaram factíveis a concepção e a produção de instrumentos cirúrgicos e equipamentos ópticos adequados.

Houve uma mudança radical quando ocorreu a incorporação de sistemas de vídeo ao equipamento, com o surgimento da cirurgia Vídeo Laparoscópica, com imagens intracavitárias captadas por microcâmera e transmitidas para um monitor, permitindo a visualização do ato operatório por toda a equipe.

Atualmente, assiste-se ao progressivo aumento e domínio de técnicas cirúrgicas por esse processo. O desenvolvimento de instrumentos cada vez mais modernos e o aprimoramento constante das técnicas cirúrgicas tornam evidente o fato de que não haverá limites para os avanços na cirurgia laparoscópica durante os próximos anos.

Na cirurgia laparoscópica há uma sequência de eventos inexistentes na cirurgia convencional. Após assepsia e colocação dos campos cirúrgicos, executa-se a punção do abdome e a insuflação da cavidade peritoneal com gás carbônico, promovendo-se um pneumoperitônio, com distensão da parede abdominal. São feitas perfurações na parede abdominal, através das quais se introduzem os diversos instrumentos cirúrgicos. Não há contato manual direto com os órgãos abordados. Ao final da cirurgia os equipamentos são retirados promovendo o extravasamento do ar insuflado (CO2).

VANTAGENS DA TÉCNICA:

  • Menor trauma cirúrgico;

  • Redução do período de internação hospitalar;

  • Decréscimo do intervalo de tempo necessário à recuperação do paciente;

  • Redução da incidência e da intensidade de dor no período pós-operatório;

  • Decréscimo. da ocorrência de complicações na cicatriz cirúrgica;

  • Melhor resultado estético;

  • Possibilidade de retorno precoce às atividades do cotidiano.

    O método ainda apresenta desvantagens técnicas e riscos não contornados até o momento. Há dificuldade de controle de acidentes intra-operatórios, como hemorragias e lesões de estruturas delicadas. Há, também, considerável dificuldade de retirar estruturas anatômicas de maior volume. As complicações que podem se manifestar durante o ato operatório são: hipotensão arterial, taquicardia, arritmias cardíacas, embolia gasosa, pneumotórax, decorrentes principalmente do pneumoperitônio.

    No pós-operatório, podem ocorrer náuseas e vômitos, além de infecções da ferida operatória, hérnias incisionais, hemorragias, etc.

POSIÇÃO DOS EQUIPAMENTOS EM VÍDEOCIRURGIA EM ALGUMAS MODALIDADES

Muito importante na montagem dos equipamentos, é o correto posicionamento do armário na sala cirúrgica de acordo com a cirurgia proposta.

A posição ideal é sempre a construção de um eixo entre o órgão-alvo, o posicionamento dos trocateres e a posição do paciente.

EQUIPAMENTOS INDISPENSÁVEIS PARA VÍDEOLAPAROSCOPIA

TRANSFORMADOR, ESTABILIZADOR E FILTRO DE LINHA: Muito importante na montagem dos equipamentos, esses aparelhos ajudam a manter a boa transmissão da imagem, evitando interferências, e protegendo os equipamentos quanto a pequenas variações de tensão na corrente elétrica.

BISTURI ELÉTRICO (mono e bipolar): O bisturi elétrico é um gerador elétrico que modifica a corrente elétrica, frequência e intensidade, gerando uma corrente de alta frequência.

Na eletrocirurgia monopolar o arco elétrico se forma entre um eletrodo ativo que se encontra na ponta do instrumento e um eletrodo neutro fixo sobre a pele do paciente.

Na eletrocirurgia bipolar, o circuito elétrico se fecha entre os dois eletrodos que estão incorporados no mesmo instrumento (pinça bipolar).

BISTURI ULTRASÔNICO: Na pinça encontra-se um sistema acústico que transforma a energia elétrica em energia mecânica com uma frequência de 5.5 kHz, o que equivale uma onda acústica de 55.500 ciclos/ seg. (ultrason). Os ultrasons fazem vibrar a ponta do bisturi, o que faz que a água intracelular se evapore, rompendo as células e causando um corte muito preciso.

LAPAROSCÓPIO (ótica): Tubo rígido, com lentes e fibras ópticas, que possibilita a captação de imagens das estruturas no interior da cavidade abdominal. Oferece iluminação para o local, fornecida por uma fonte de luz a que se encontra ligada e transmite o cenário cirúrgico, oculto aos olhos da equipe, para uma câmera e monitor de vídeo. Possui ângulos variados, sendo mais empregados os de 0º e 30º .

FONTE DE LUZ: aparelho fornecedor de luz fria, que é conduzida ao laparoscópico por meio de cabo flexível de fibras ópticas. Uma vez acessa não convém apagar para voltar a acender imediatamente, deve-se esperar uns minutos para acender novamente. As lâmpadas têm em média uma vida útil de 1000 horas, e são muito caras, por isso deve-se reservar o uso para o momento da cirurgia.

CABO FLEXÍVEL DE FIBRAS ÓPTICAS: os cabos da fibra de quartzo são compostos de um feixe unidos e isolados por uma capa plástica, com um conector em cada extremidade: um para a fonte de luz e outra para o endoscópio. Existem diferentes calibres, quanto mais grossa mais fibra vai conter consequentemente mais luz vai transmitir, aumentando também seu peso. Ao se escolher o calibre deve-se levar em conta a cavidade.

  • Tratando-se de cavidades pequenas (artroscopias, sinu- sectomias, histeroscopias, etc) escolheremos cabos finos que por sua vez são mais leves, e geralmente ficam suspen- sos ou apoiados por pinças. Transmitem menos luz.

  • Tratando-se de grandes cavi- dades (laparoscopias, toracos- copias,) escolheremos cabos grossos, para maior quantidade de luz possível.

CÂMERA E MONITOR DE VÍDEO: a imagem obtida pelo laparoscópico é captada por uma câmera e transmitida ao monitor. Durante o ato cirúrgico, a câmera e seu cabo óptico costumam ser envolvidos por protetores estéreis. Esse mecanismo evita a contaminação do campo, uma vez que o cabo não está estéril (a esterilização do sistema poderia danificá-lo).

INSUFLADOR: equipamento ligado a um reservatório de gás carbônico, que controla a passagem do gás à cavidade abdominal. A cavidade peritoneal é insuflada para que as estruturas abdominais possam ser visualizadas e manipuladas. A pressão do gás deve ser limitada e controlada automaticamente pelo insuflador, mantendo-se constante nos níveis desejados pelo cirurgião e suportáveis pelo paciente.

Tipos de adaptadores (plugs): a imagem obtida pelo laparoscópico é captada por uma câmera e transmitida ao monitor por cabos que podem influenciar na qualidade da imagem. Os tipos de conectores ou plugs mais utilizados por esses equipamentos são basicamente três modelos: Os S-Video, NBC e RCA, conforme demonstrados nas figuras abaixo:

TESTE DO ESTADO DO CABO DE FIBRAS ÓTICAS

Em uma das extremidades, com a luz ambiente, aproxime o cabo com uma das mãos da luz e observe a outra, se não tiver totalmente claro, este cabo esta danificado.

MATERIAL CONVECIONAL BÁSICO PARA CIRURGIA

Em todo procedimento cirúrgico por via laparoscópica sempre há necessidade do material convencional, para uma possível conversão. Este material deverá ser o primeiro a ser aberto para o início da preparação do campo operatório, anti-sepsia, colocação dos campos, fixação dos campos, abertura e fechamento da parede abdominal.

O MATERIAL MÍNIMO NECESSÁRIO:

  • Cuba redonda 
  • Cabo bisturi no 3 
  • Backaus 
  • Tesoura reta mayo 
  • Cheron ou Foester 
  • Tesoura curva met- zembaum 
  • Farabeuf 
  • Allis 
  • Dissecção com dente 
  • Dissecção anatômica 
  • Porta agulha de mayo hegar 
  • Bico de aspirador 
  • Kocher reta ou curva 
  • Tenta-cânula 

INSUFLAÇÃO DA CAVIDADE PERITONEAL

Através de uma agulha especial (agulha de Veress) é possível fazer a insuflação da cavidade peritoneal com gás carbônico, ocasionando o afastamento das estruturas anatômicas. Esta agulha pode ser descartável ou não. Possui mandril interno, com a finalidade de proteger a ponta da agulha, impedindo lesões de estruturas intracavitárias.

COLOCAÇÃO DOS TROCÁTERES

Os trocáteres são instrumentos tubulares de diâmetros diversos, com mandris perfurantes retirados após a punção da parede abdominal. A posição e a quantidade de trocáteres utilizados podem variar de acordo com o procedimento.

O primeiro trocáter é instalado, geralmente, no local da punção da agulha de Veress. Através dele, o laparoscópio é introduzido na cavidade abdominal. Instalando-se, assim, os demais trocáteres, sob visão direta.

PINÇAS LAPAROSCÓPICAS

Os instrumentos de vídeo cirurgia são especiais, basicamente longos, de aspecto tubular, que podem ser divididos em três porções: empunhadura, eixo central e extremidade.

PREENSÃO:

Pinças usadas para preensão, fixação ou oclusão de estruturas a serem manipuladas. As extremidades podem ser retas ou curvas, com ou sem dentes, ou semelhantes a pinças convencionais, como, Allis, Babcock, Clampes intestinais, etc.

EXPOSIÇÃO:

Algumas variedades de afastadores foram desenvolvidos para possibilitar o deslocamento atraumático de estruturas adjacentes ao órgão em que se pretende intervir, permitindo melhor visualização do campo. São estruturas tubulares dotadas de espátulas na extremidade.

DISSECÇÃO:

São utilizadas pinças com a finalidade de visionar os tecidos, isolando estruturas anatômicas. A ponta deve ser delicada, permitindo dissecções. Ex: Maryland.

DIÉRESE:

É abertura o início da cirurgia usam-se tesouras, que podem apresentar diferentes formas em suas extremidades, sendo retas, curvas ou em gancho; com pontas agudas ou rombas.

HEMOSTASIA:

É utilizada a cauterização de tecidos e pequenos vasos por meio de corrente elétrica monopolar ou bipolar. Outro método bastante utilizado é o uso de clipes de titânio em forma de V, aplicadas contra estruturas vasculares e pressionadas externamente. Os aplicadores de clipes podem ser descartáveis ou reutilizáveis.

SÍNTESE:

É possível executar suturas por meio de instrumentos de cirurgia laparoscópica. Há uma variedade de porta-agulhas especialmente desenvolvida. Os fios utilizados terão espessura condizente com a região a ser utilizada. Em geral as agulhas são cilíndricas e atraumáticas, de dimensões pequenas, pouco curvas, possibilitando a passagem pelo interior dos trocáteres

Obs: Empunhadura de Metal e Teflon/ Nylon sem ou com cremalheira – existem modelos feitos de material rígido (aço cirurgico) que tem maior durabilidade, mas podem ser menos confortáveis para uso prolongado. Outros modelos de materiais semi-rígidos podem ser mais confortáveis para uso prolongado. A cremalheira permite deixar o material fechado sem que o cirurgião precise manter a manopla fechada. É muito útil para o material dos auxiliares quando a intenção é movimentar pouco o instrumento. Manoplas com cremalheira geralmente permitem inativar a cremalheira caso seja desejo do cirurgião. A manopla sem cremalheira dá mais versatilidade e leveza para o instrumento e geralmente tem maior durabilidade.

PREPARO DO MATERIAL PARA CIRURGIA

Para desinfecção ou esterilização do material de videolaparoscopia, são necessárias duas cubas, bandejas, ou caixas plásticas, grandes (comprimento largura e profundidade) com tampa, para caberem os materiais de videolaparoscopia (pinças, mangueiras, cabos, etc.). A profundidade deve ser o suficiente para que o material fique todo submerso na solução de glutaraldeído.

O tempo de processo que você deseja (desinfecção alto nível ou esterilização) deverá ser observado no rótulo do fabricante do produto.

Cobrir o material com compressas limpas e estéreis, que serão aproveitadas posteriormente para proteção das laterais da caixa onde se encontra o material submerso no glutaraldeido.

USO DE EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI)

Qualquer que seja o tipo de limpeza, manual ou automatizado, alguns cuidados devem ser tomados para garantir sua segurança e eficácia. A manipulação constante de produtos químicos utilizados no material de vídeo, exige do funcionário o uso de equipamento de proteção individual (EPI), constituído de gorro ou toca descartável, avental impermeável de manga longa, máscara descartável, luvas cirúrgicas, óculos com protetores laterais, botas ou protetores impermeáveis para os sapatos.

BIBLIOGRAFIA

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Barboza, Luciano, Manutenção e Cuidados com o Instrumental Cirúrgico Endoscópico – H.Strattner & Cia Ltda. 2005.

Possari, João Francisco, Centro Cirúrgico: Planejamento organização e Gestão. São Paulo: Editora Iatria; 2004.

EDITORES:

• Dr. Miguel Nácul
• Dr. Elias Couto
• Dra. Aline Amaro (Revisora)

Equipe Unicetrex 2022